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O que os círculos de mulheres têm a ensinar?

A dra. Jean Shinoda Bolen, referência mundial nos estudos do feminino arquetípico, fala sobre as rodas de mulheres, seu poder de transformação e sua forte conexão com o sagrado

Mulheres reunidas configuram uma força poderosa – iStock

“O círculo de mulheres que conduzo e que inspirou o livro O Milionésimo Círculo – Como transformar a nós mesmas e ao mundo (Ed. Triom) existe há quase trinta anos. Nesse espaço temos a chance de compartilhar sentimentos, trabalhar em conjunto e co-criar soluções. O que é falado em sigilo permanece em sigilo. Nessas rodas, se fala e se escuta a partir do coração. E quando se pede uma prece, uma reza ou um conselho, eles são ofertados a partir da experiência de cada uma. Dessa maneira, quem recebe e quem dá partilham da cura. Tanto esse trabalho quanto a análise junguiana têm o pressuposto de atingir o Eu Maior, o Self, também chamado de Tao ou de Poder Superior. Uma força maior do que nós, mas que podemos acessar naturalmente quando estamos num ambiente seguro.
 Parte fundamental dessa busca consiste em recolher nossos aspectos negados – porque não agradavam aos outros ou porque eram considerados inaceitáveis pelo auto-julgamento – e ser mais verdadeiras com nós mesmas. Nossa tarefa é lembrar do que foi desmembrado. E, para as mulheres como um todo, isso significa olhar para o que foi depreciado no feminino e posteriormente integrar esse conteúdo à psique. Isso pode ser descoberto e partilhado em círculos.
  Mulheres reunidas configuram uma força poderosa. Num círculo não há hierarquia, todas são iguais e podem falar sobre a sua verdade. Ninguém tenta consertar ninguém. É o lugar da confiança, da liberdade e do aprendizado. Seu centro sagrado energiza e oferece suporte emocional e espiritual às participantes. Sem falar que o apoio mútuo faz com que cada uma encontre a determinação necessária para encaminhar suas vidas da maneira que desejam.
  Nesse ambiente é comum aflorarem novas formas de ser e estar no mundo. Tarefas a serem realizadas em prol do coletivo – proteger florestas e animais, salvar crianças, despoluir a água, combater a fome etc- se apresentam e você voluntariamente diz sim a elas. Mulheres que abrem caminho para algum trabalho social sabem que o que as move é o sentido pessoal, um significado profundo que remete a suas próprias histórias de superação. Em geral, pessoas que realizam obras significativas têm uma ferida por trás dessa escolha. Conheci mulheres que trabalharam com tráfico humano e hoje se empenham em salvar vítimas dessa violência; testemunhas de genocídios que tentam levar a paz a seus países. Enfim, cidadãs que se aliam para mudar situações adversas e são bem-sucedidas em suas missões.
 Nessa hora, três perguntas devem ser feitas: Isso é significativo para mim?; Será divertido, mesmo que muitas vezes seja difícil? – sempre é divertido quando fazemos coisas com pessoas com as quais compartilhamos valores e sonhos; O amor é a razão fundamental? Quanto mais trabalharmos a partir do campo amoroso, mais seremos capazes de perceber que esta é diferente de qualquer outra motivação. O amor só conhece a expansão. Todos os envolvidos são beneficiados. Se você responder sim a essas três perguntas, estará no caminho do coração, que traz alegria. Esse é o caminho da alma.” 

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Nascida em 1936, nos Estados Unidos, Jean Shinoda Bolen atua como médica psiquiatra e analista junguiana desde o começo dos anos 1960. De 1967 a 2010, foi professora clínica de psiquiatria na Universidade da Califórnia, em São Francisco. Renomada palestrante internacional, pesquisadora de temas femininos e ativista pelos direitos das mulheres, é autora de 13 livros, entre eles bestsellers como As Deusas e a Mulher (Ed. Paulus), As Deusas e a Mulher Madura (Ed. Triom), A Sincronicidade e o Tao (Ed. Cultrix) e O Caminho de Avalon (Ed. Rosa dos Tempos). Atualmente, segue atendendo seus pacientes em Mill Valley, Califórnia, onde reside. Mais informações: jeanshinodabolen.com