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Monja Coen – Michel Filho / Agência O Globo

“Imaginem que todas as imagens de Buda sejam femininas. Imaginem que todos os grandes líderes tenham sido mulheres. Imaginem que apenas as mulheres tenham oportunidade de estudos superiores e que caiba aos homens servi-las, alimentá-las, lavar suas roupas.” 

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A lama budista do Havaí iniciara assim a reflexão sobre o tema a ser meditado naquele dia. Sua Santidade o 14º dalai-lama deixava as lágrimas escorrerem. Ao final, comprometeu-se: “Vou fazer o que puder para que haja equidade. Mas você sabe que não depende apenas de mim”.
Ao ouvir essa história, lembrei-me das dificuldades da primeira monja histórica, Mahaprajapati Daioshô. Ela era a mãe adotiva de Buda, irmã de sua mãe biológica, que morrera uma semana após o parto. Também era esposa do rei Suddhodana, pai de Buda. Quando o jovem retornou como um renunciante e anunciou o caminho de paz que havia obtido, Mahaprajapati, cujo nome significa líder de uma grande assembleia, pediu para segui-lo como monja. “Não”, ele disse. “Se as mulheres deixarem o lar, o que será das famílias?” 
Essa foi sua primeira resposta. Ela, porém, não a aceitou. Em uma sociedade patriarcal, como era a Índia na Antiguidade, a mulher que não tivesse um homem para protegê-la também era considerada uma pária. Muitas mulheres cujos maridos, fi lhos, primos, tios, sobrinhos, genros haviam morrido nas inúmeras batalhas de um país dividido não tinham mais família. Não conseguiam seu sustento. Mahaprajapati, como esposa do rei, lhes ensinava artes manuais para que, vendendo alguns artigos ou alimentos, pudessem manter a si e aos seus fi lhos. Com mais de 500 mulheres, ela seguiu Buda.
Quando Ele fez um discurso para um grupo de pessoas, dizendo que todas, sem exceção, tinham a condição de obter a mesma iluminação que ele obtivera, seu atendente e primo, Ananda, solicitou a palavra: “Mestre, todas as pessoas incluem as mulheres também?”. “Claro que sim, Ananda!”, disse Buda. “Então, Mestre, por que o senhor não ordena Mahaprajapati?”, sugeriu Ananda. 
Esse diálogo foi fundamental para a mudança de pensamento de Buda. Causas e condições favoráveis fi zeram com que eu conhecesse o budismo do grande veículo (mahayana) de uma ordem japonesa em que a igualdade entre monges e monjas vem ocorrendo desde a Segunda Guerra Mundial. Foi a monja Kojima Sensei que, durante e depois da guerra, viajou por todo o país, convencendo os líderes religiosos da necessidade de equivalência entre monges e monjas. Hoje temos os mesmos direitos e deveres. Mas, infelizmente, ainda há lugares que discriminam e maltratam as mulheres. Que a compaixão traga sabedoria aos corações herméticos.
Homens e mulheres que dedicam sua vida a um caminho espiritual devem ser igualmente honrados e podem fazer sua parte para que todos os seres sejam felizes e encontrem a plenitude