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Malga Di Paula – Cadu Pilotto

Hoje quero escrever sobre a famosa “crise da meia-idade”. Há várias definições para essa etapa da vida adulta, mas, segundo a Organização Mundial da Saúde, ela acontece entre 45 e 59 anos. Esse momento tem reflexos profundos na vida social e profissional dos indivíduos e se caracteriza, em geral, pelo questionamento de antigas certezas. Podem multiplicar-se as dúvidas acerca das decisões sobre a carreira escolhida, os amores vividos e as conquistas obtidas. E surgir o medo de uma vida instável no futuro – em todos os sentidos. Às vezes, essa insegurança é intensificada por algum fato que aponta para o envelhecimento do corpo e a proximidade da velhice. 

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No meu caso, passei por uma experiência precoce nesse confrontamento ao ficar viúva aos 42 anos. Aquele foi o momento em que, diante da morte, eu precisei encontrar perspectiva. Havia dois adultos convivendo dentro de mim, que parecem coabitar a grande maioria dos que atravessam essa faixa etária. Um dos adultos sabia tratar-se de um período de instabilidade, mas aceitava viver essa desorganização passageira e se desenvolver a partir dessa nova configuração. O outro adulto, contudo, estava apavorado, completamente perdido e sem referências. 
Meu conforto e algumas respostas a essas questões tão humanas têm vindo do estudo da filosofia, mais especificamente dos filósofos existencialistas do final do século IX e início do século XX, com destaque para o dinamarquês Kierkgaard, que se apoiaram no conceito da solidão essencial da humanidade e na busca desesperada pelo sentido da vida.
Conectar-se com sua espiritualidade e fazer as pazes consigo mesmo são outras dicas profundamente úteis. Durante muito tempo tentei encontrar uma explicação que desassociasse religião de espiritualidade e finalmente encontrei minha resposta no livro Espiritualidade, um Caminho de Transformação (ed. Sextante), de Leonardo Boff. Na obra, ele conta alguns diálogos com o dalai-lama. Certa vez, eles se encontraram em Londres e o escritor brasileiro perguntou ao monge: “Mestre, o que é espiritualidade?” Com a grande sabedoria e simplicidade que o caracterizam, o budista respondeu: “Espiritualidade é aquilo que te faz bem”. 
Essa conexão com o que há de melhor dentro de nós traz esperança e força para enfrentarmos a vida com placidez. Quanto à segunda dica, sobre fazer as pazes consigo mesmo, ao se questionar sobre as escolhas do passado, não seja cruel consigo mesmo. Pense que, mesmo que elas não tenham sido perfeitas, foram as melhores que você conseguiu. 
Finalmente, você pode não estar com o corpo perfeito como gostaria – e se sentir pressionado a reverter a passagem do tempo. Liberte-se disso. Vá até o espelho e olhe para a única pessoa que, apesar de não conseguir mudar nada do seu passado, tem o poder de lhe dar um futuro. Seja generoso consigo mesmo e ame-se com todas as suas forças. Porque não há amor maior no mundo, nem mais confiável, nem mais seguro, do que o amor-próprio.