Perto de ser ordenado padre, Joaquim de Melo, recifense radicado em Fortaleza, morou por um ano num lixão na capital do Ceará. Foi ali que ele decidiu ajudar comunidades empobrecidas a sair da degradação e melhorar a qualidade de vida. Cancelou a carreira religiosa e mudou-se para o Conjunto Palmeiras, grande favela a 2 quilômetros do lixão. Era 1984. “Durante 20 anos ajudei nos mutirões comunitários para construir o bairro”, conta. Porém, a pobreza persistia. Assim como a vontade de erradicá-la.

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Melo constatou que os moradores compravam os produtos para sua subsistência fora do bairro – o pouco que ganhavam escapulia para longe e a vida continuava dura. Era preciso que a população fosse capaz de produzir e comprar localmente. Com esse intento nascia, em 1998, o Banco Palmas. O modelo de economia solidária funciona assim: a entidade empresta dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e repassa de R$ 50 a R$ 15 mil aos moradores do bairro, que só precisam provar que têm condições de pagar o montante solicitado. Muitas vezes, R$ 100 é sufi ciente. Maria Aurineide, 40, casada, mãe de dois fi lhos, fez um empréstimo de R$ 300 em 1998. Pagou em dia. Seis meses depois, pegou R$ 600 e passou a vender roupas em sua própria casa. Depois, emprestou R$ 5 mil e montou um mercadinho. Os quatro últimos empréstimos (de R$ 15 mil) foram para organizar seu depósito de construção. De vendedora de rua ela é hoje uma empresária da construção. 
Os números mostram que o empreendedorismo suplantou a miséria. “O comércio local cresceu 30% e foram gerados 2 300 postos de trabalho”, acrescenta Melo, que também ajudou a criar a Rede Brasileira de Bancos Comunitários. “Ser ativista é não aceitar a injustiça social, arregaçar as mangas e seguir construindo a sociedade que sonhamos, bairro a bairro, município a município”, define ele, que destaca a importância das ideias e dos esforços coletivos. “É muito mais viável economicamente sermos solidários do que competitivos”, defende. O próximo desafio é implementar o Banco da Periferia, um complexo de 40 bancos comunitários espalhados pela periferia de Fortaleza, onde 1 milhão de pessoas vivem arduamente. 

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