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Quem sabe se acolher…

Amar a si mesmo, verdadeiramente, é saber acolher tanto nossas fragilidades quanto nossas virtudes e, assim, ser capaz de aceitar o outro com seus matizes. Algo indispensável para a pluralidade mundial, segundo o rabino Nilton Bonder

Nilton Bonder – Divulgação

Por que no dia a dia nos tornamos alvo de nossas críticas e cobranças mais ferozes? Ou, então, depositamos expectativas, frustrações ou desejos que são nossos nos ombros de outra pessoa? Sem falar nas vezes em que esperamos que venha do outro o apreço que não conseguimos direcionar a nós mesmos. “Todos esses problemas clássicos podem ser o reflexo da falta de amor-próprio. Quando esperamos que o reconhecimento e o amor venham apenas do outro, construímos um relacionamento baseado em expectativas, normalmente, frustradas. Por isso é importante falarmos sobre essas questões para podermos nos aceitar e nos entender melhor”, afirmou o rabino Nilton Bonder no programa Janela para o Conhecimento, série de entrevistas, palestras, workshops e debates gratuitos promovidos pela Unibes Cultural, em São Paulo.

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Segundo Bonder, devemos assentar nosso templo interior sobre bases vigorosas. E, para tanto, não há outro jeito senão fortalecermos nossa autenticidade, dando atenção e acolhendo aspectos e características vitais para a nossa essência e também nosso lado obscuro, menos resolvido. “A autenticidade é o oposto da baixa autoestima. Ela é a nossa casa no mundo, um lugar onde podemos ser nós mesmos”, define. 
O problema, destaca ele, é que nos preocupamos demais com o julgamento alheio. E muita gente acaba se deixando dominar por aquele lado sombrio que nos diz: “Esquece, para você não vai ter, pois você não é merecedor. É ‘menos’”. “Se deixamos isso acontecer, apodrecemos por dentro. Esse tipo de pensamento traz uma alta toxidade; deixa de alimentar ao invés de nutrir nosso ser”, alerta Bonder e, na sequência, enfatiza: “Todos nós temos merecimento porque não deixamos de pertencer à ordem maior, de fazer parte do todo. Jamais podemos nos desqualificar, nos colocando no lugar do ‘menos’”. Nessas horas, ele indica, o autoacolhimento amoroso deve sussurrar em nossa alma: “Você está dentro. Ninguém está fora, porque todos pertencem”. No máximo, pondera o rabino, podemos derrapar 
aqui e ali, mostrar de vez em quando nosso pior lado. “Devemos parar aí e tentar fazer melhor da próxima vez”, aconselha. 
Desse exercício de autoaceitação vem a segunda lição. “Se sabemos nos acolher amorosamente, também somos capazes de fazer isso com o outro”, encoraja. Nesse sentido, temos que nos manter vigilantes, depositando a atenção em nosso interior, recomenda o mestre. “Quer se amar? Então seja uma pessoa que sente, que observa as coisas com o coração e pulsa com a vida, acolhendo os próprios sentimentos, sem sentir vergonha deles. Esse é o lugar do amor-próprio”, ensina o rabino.
Quanto mais formos capazes de validar nossa unicidade, mais nos tornaremos permeáveis ao mundo e às pessoas como elas são. E, quanto mais plural e diverso o planeta for, mais harmonia teremos à nossa volta. Esse é o trajeto da evolução, segundo Bonder. “Se a gente se amar, vamos conseguir produzir muito mais pluralidade e diversidade no mundo. Acredito que estamos nesse caminho”, aponta o religioso.
Graduado em engenharia mecânica pela Universidade de Columbia e doutor em literatura hebraica pelo Jewish Theological Seminary, ambos em Nova York, o rabino gaúcho Nilton Bonder é líder espiritual da Congregação Judaica do Brasil e presidente do Instituto Superior de Estudos da Religião (ISER), no Rio de Janeiro. É autor de dezenas de livros, entre eles, a série A Cabala da Comida, do Dinheiro e da Inveja, A Alma Imoral (adaptado para o teatro), Segundas Intenções e Tirando os Sapatos, todos pela editora Rocco. Também atua como palestrante, professor, consultor e pesquisador. É internacionalmente reconhecido como pensador nas áreas de humanismo, filosofia e espiritualidade. niltonbonder.com.br