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Um largo sorriso para Deus

Segundo o teólogo e psicoterapeuta americano Thomas Moore, somente o riso que compreende e aceita as limitações e ignorâncias humanas pode revelar a presença do divino em nossa vida

Thomas Moore – Ajeet Khalsa
A certa altura da jornada espiritual, todo buscador inevitavelmente se indaga: “Quais são os indícios da elevação espiritual? Como saber se estou ascendendo na escalada
interior?”. Segundo o teólogo e psicoterapeuta americano Thomas Moore, a sabedoria que vem de dentro se apoia em dois importantes pilares: o bom humor e a confiança profunda.
Para justificar essa a rmação, o estudioso recorre ao exemplo de Jesus Cristo no livro O Self Original – Meditações (Verus Editora). “O Salvador sorriu e lhes disse:
‘Em que vocês estão pensando? Por que estão perplexos? O que estão buscando?’. O aspóstolo Filipe respondeu: ‘A realidade subjacente ao universo e a seu plano’.”
Nessa passagem, extraída de uma antiga fábula gnóstica, os seguidores de Jesus o questionam após a ressurreição. Tendo em vista o clima de extrema aflição e incredulidade suscitado pelo retorno do mestre há pouco crucificado, os discípulos estão sérios e confusos. O Filho de Deus, por sua vez, se diverte com a cena. Ri dos elaborados questionamentos e rebate: “Por que vocês me fazem essas perguntas? Toquem a vida adiante e tenham um pouco de fé”.
“Há certo tipo de riso que irrompe de um confortável consenso sobre a pequenez da natureza humana. Sorrimos, por exemplo, quando uma criança descobre uma verdade
básica, como o princípio da gravidade”, pontua Moore. E lembra que até mesmo Buda, “figura de absoluta compostura em face da existência pura”, é representado com um largo sorriso em muitas tradições. Afinal, assim como Jesus, o iluminado compreendeu que o riso brota da alma quando nos entregamos aos desígnios superiores da existência.
E, claro, não há entrega sem confiança, o segundo bastião da sabedoria interior. “Para criar uma vida digna, devemos mais confiar do que ter um insight do plano global.
Quando nossa fé é fraca e temos que insistir em nossas próprias crenças à custa das dos outros, perde-se aquele bem-estar necessário para que possamos rir”, afirma
o teólogo. Quem necessita “ver para crer” ou, então, entender tudo nos mínimos detalhes pela via racional, ele avisa, dificilmente será capaz de soltar aquela risada própria das pessoas que encontram dentro de si a matriz da paz de espírito: “O tipo de riso exibido por Jesus e Buda funda-se no humilde conhecimento de nossas limitações. Rimos porque podemos viver confortavelmente por não sabermos tudo”. O não saber, assim entendido, é um lugar de conforto e leveza. Fonte do contentamento genuíno.
Aqueles que acreditam muito seriamente nas próprias convicções, alerta o estudioso, correm o risco de se distanciar dos sentimentos de humanidade. E, com isso,
resvalar para a intolerância raivosa, gatilho de conflitos e ressentimentos. A vida, apreciada da perspectiva de Moore, está mais para uma divina comédia do que para uma prova de certo e errado. “Até que descubramos como é que esses dois vocábulos se associam (divina comédia), estaremos condenados à depressão e à seriedade espiritual, sinais de que ainda não encontramos a Deus. Afinal o riso sincero é o sinal de que Ele está presente.”
Thomas Moore nasceu em Detroit, nos Estados Unidos, e foi por 12 anos monge de uma congregação religiosa católica. Formou-se em teologia, musicologia e filosofia. Atualmente é professor emérito de loso a e de psicologia e viaja o mundo ministrando palestras sobre medicina holística, espiritualidade, psicoterapia e artes. Atuou durante muitos anos como psicoterapeuta, experiência que originou uma série de livros voltados para o cultivo do mundo interno, entre eles, Noites Escuras da Alma – Um Guia para Iluminar seu Caminho em meio às Provações da Vida (Verus Editora), A Alma do Sexo – Cultivando a Vida Como um Ato de Amor (Ediouro), Cuide de Sua Alma (Siciliano) e O Que São Almas Gêmeas (Ediouro). thomasmooresoul.com.

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