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Minimalismo: A constante luta contra o apego, quando o menos vale mais

Na coluna desta semana, Jamar Tejada reflete sobre o minimalismo: “Sua paz está dentro de você mesmo e não nas coisas que estão aí jogadas no armário ou na vitrine das lojas!”

Como começar a se livrar da energia parada que objetos antigos – ou até mesmo novos – deixam na sua vida? – Freepik

Fui criado no interior, numa cidade gaúcha chamada Guaíba, próxima da capital Porto Alegre. Quando pré-adolescente, aquela fase transitória que toda criatura fica medonha — espinhas, voz que mais parece o grito de um ganso, um fio de barba perdido e os braços parecendo mais compridos que as pernas — acelerei no crescimento de um jeito que era praticamente uma roupa nova por semana, tudo ficava curto rápido demais. A lembrança que tenho de mim é de um moleque seco, comprido e beiçudo e muito, mas muito tímido! Lembro que a minha mãe comprava minhas roupas numa loja da cidade, Casa Maria era o nome se não me engano, não tinha muita opção de escolha na época, até porque eu não tinha mínimo interesse em compras, não ligava para o que vestia. O que minha mãe comprasse estava ótimo, eu não me vestia, me cobria! 

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Já homem feito com 12 anos, a menina que eu era apaixonado, bem mais velha, 15 anos, de outra série, me segura pelo braço no corredor da escola e quando pensei que ali ganharia meu primeiro beijo, ouvi dela uma frase que mudou minha vida: “Menino, você é bonitinho, mas pelo amor de Deus que roupa é essa?”. Lembro-me desse dia como se fosse hoje. Fui pra casa segurando o choro. Qual o problema com minha calça moletom com napa costurado no joelho? Será que ela não entendia que era pra não rasgar quando eu ralava pelo chão? Qual o problema com minha camisa amarela dos Smurfs? Os Smurfs eram muito bacanas, caso ela não soubesse! E qual o problema do meu tênis Kichute com cordão amarrado por cima da calça moletom? Será que ela não entendia que Kichute era um tênis pra qualquer parada?

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Sei que depois desse dia tudo mudou, eu precisava mudar, pedi pra minha mãe: “Quero uma calça Wrangler, uma bota Commander e uma camiseta da Pychulyn!” E lá fui eu todo, todo, vestido “na grife”, para a reunião dançante e pasmem, todas as meninas me aceitavam para a música lenta, aliás eu era disputado na vassoura! Bom, se você não nasceu nos anos 80 não tem a mínima ideia do que estou falando, o que importa é que naquela noite fui objeto de desejo, provei o gostinho de ser desejado, curti demais aquilo e sabia que a roupa nova havia sido o divisor de águas. Desde então, todo dinheiro que eu ganhava era pra comprar as malditas camisetas da Pychulyn, as calças Wrangler e também os moletons da Gang, a loja que te entende!

Aos 12 anos, já havia me transformado num consumista compulsivo, acreditava que precisava usar aquelas marcas para ser aceito e assim fui moldando minha personalidade, com o pensamento de o que você tem, é o que te faz valer como indivíduo, um pensamento que deve ser cortado pela raiz desde cedo, lá na infância.

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Quando um pai distante, que não sabe demonstrar afeto, recompensa um filho com um presente material e no final lhe dá um abraço, ele passa ao filho uma mensagem nada positiva: de que o amor só vem quando ele conquista alguma coisa. Na verdade, na sociedade consumista que vivemos é esse o sentimento: você é amado, idolatrado, desejado quando tem mais e, quanto mais, melhor. E nessa busca sem sentido para sermos amados, acabamos perdendo o sentido do que realmente importa.

Utilizamos nosso tempo trabalhando para adquirir coisas que acreditamos preencher nosso vazio e nessa busca desenfreada pelo preenchimento desperdiçamos nosso tempo de vida e nossa saúde. Como diz um ditado do filósofo chinês Confucio: “O homem joga sua saúde fora para conseguir dinheiro, depois usa o dinheiro para reconquista-la novamente”.

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Quando começamos entender o verdadeiro significado do valor do nosso tempo, passamos a dar valor ao que realmente importa na nossa vida. Imagine por exemplo um novo jeans custasse cem horas da sua vida, em vez de um valor em dinheiro. Você compraria esse jeans? Pode ser que sua resposta seja sim, pode ser que, para você, o valor das coisas seja muito mais importante que seu tempo de vida, cada um é cada um. Bom, você comprou esse jeans, foi ao trabalho com ele se sentindo poderoso, mas ao voltar para casa passou por uma vitrine do shopping e viu um tênis que ficaria perfeito com seu novo jeans, esse tênis precisava ser seu! Pronto, comprou! Passam os dias, aquele jeans e aquele tênis são apenas mais algumas peças jogadas no seu armário.

Chega a fatura do seu cartão de crédito e você sente um sentimento de culpa, desespero e precisa acalmar isso fazendo o que? Sentindo-se amparado, sentindo-se amado! E o que você aprendeu desde pequeno que desperta esse conforto? Mais compras! Infelizmente você é um escravo de suas próprias erradas crenças! Você precisa entender que sua paz não depende de coisas, que para ser amado você não precisa de coisas, sua paz está dentro de você mesmo e não nas coisas que estão aí jogadas no armário ou na vitrine das lojas!

E aí que entra o minimalismo, simplificando nossa vida, eliminando os excessos e mantendo apenas o que é essencial, fazendo-nos perceber que não precisamos de tanto. Menos pode ser mais!

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Minimalismo não é uma prática fácil, é uma prática de desapego e, acima de tudo, de conscientização do que realmente é importante e faz sentido em sua vida. Nessa época de pandemia, de isolamento, comecei a observar mais minha casa e fiquei chocado com a quantidade de móveis que eu tinha, móveis antigos, pesados que já estavam comigo desde o primeiro ap, móveis que preenchiam todo meu apartamento, que aliás é um apartamento enorme. Coloquei a energia em vendê-los e assim o fiz, saíram de minha casa dois caminhões de móveis! Aqueles caminhões levavam minha história!  

Não, aqueles caminhões não levavam minha história, aqueles caminhões carregavam todo um excesso de minha vida, anos de trabalho acumulado, ansiedade e escravidão para poder pagá-los. Eles se foram, mas não eram os móveis a minha história, eles apenas ativavam lembranças, lembranças de momentos que continuam guardados na minha memória. Quantas viagens deixei de fazer, quanto tempo podia ter ficado mais com minha família, meus amigos, quantos momentos a mais de alegria podia ter acrescentado na minha vida mas troquei por móveis, ansiedade e dívidas? 

Essa “descarga” de móveis, despertou um sentimento em mim de liberdade. Comecei a querer me livrar de tudo aquilo que não fazia mais sentido para mim. O próximo passo foi vender meu apartamento, eu não precisava de um apartamento daquele tamanho todo! E mais uma vez, coloquei minha energia na venda e incrivelmente menos de uma semana depois dos móveis terem partido, surgiram mais de cinco propostas de compra para meu ap! Vendi! Cuidado com o que você deseja, porque o Universo te dá de presente! Mas não fique sentado esperando, corra atrás! As propostas não surgiram porque eu simplesmente desejei, surgiram porque eu me movimentei, busquei imobiliárias, fui atrás de contatos, eu ajudei o Universo a me ajudar! E ele me ajudou!

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Aí você deve estar pensando: “Poxa que bacana ele concluiu o curso de minimalismo!” Que nada! Como eu disse, a prática do minimalismo é constante. Durante essa mudança para a nova casa, me deparei com pilhas e mais pilhas de caixas! Caixas que não sabia nem como identificar, “Cacarecos”? Você já se deparou com a quantidade de tralhas que acumula em sua vida pensando que um dia fará uso e estão lá só ocupando espaço, acumulando pó e energia? Coisas como coleções de CD, sendo que seu cd player sequer funciona, e você usa aplicativos de música para ouvir o que quer! Coisas como carregadores de celular, de aparelhos tijolões do início do século que nem museu tem interesse!

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Roupas e mais roupas que não têm mais nada a ver com seu estilo de ser, roupas que sequer cabem em você, mas você continua guardando porque usou numa festa e ficou com alguém logo de cara, logo ela te traz sorte e você precisa guardá-la, senão a sorte se vai!

Minimalismo não é viver numa casa toda pintada de branco, com uma única cadeira, uma panela, prato, talheres e um colchão no chão! Minimalismo é uma prática em que você se livra das sobras, das bordas, para dar importância ao que realmente faz sentido. Quando você tem menos, tem menos dívidas e mais tempo para curtir a vida e até mesmo dar mais valor ao que você já tem. O que você elimina e o que fica é uma decisão sua, que vai depender do que faz sentido para você e para sua vida.

Para começar essa prática minimalista não precisa de uma única vez jogar tudo fora, doar toda sua casa! Essa tarefa de exercício de desapego não é nada fácil, e pode e deve ser feito em etapas, assim como deve ser um processo constante. Eu mesmo, quando começo, abro meu armário e separo primeiramente o que chamo de zona tensa, aquela gaveta que só abro e jogo aquilo que não sei porquê talvez um dia vá usar. Nessa zona tensa eu nem levo caixa, eu faço uso é de um saco de lixo, separo tudo aquilo que não faço uso há anos, que está quebrado ou simplesmente não funciona. Paro, tomo um café, brinco com minha cachorra, dou uma fuxicada no Instagram e volto! Essa tarefa não pode ser chata, você tem que interpretá-la como necessária e, acima de tudo, positiva na sua vida! 

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Depois de ter avaliado a zona tensa e retirado o grosso, pegue o que ficou e faça a seguinte pergunta: esse objeto me faz feliz?

Depois faça a segunda pergunta: Eu preciso dele? Ele tem utilidade HOJE em minha vida? Por exemplo um relógio, você realmente precisa dele se você vê as horas no celular? Faz sentido? Tudo bem, pode ser um relógio que você ache lindo, se sinta poderoso e/ou sempre quis ter, ou pode ser um relógio que ganhou do pai de presente de formatura, só você sabe o real valor, mas lembre-se: as lembranças não estão no objeto e, sim, na sua memória! Um outro exemplo, você já parou pra prestar atenção nas suas despesas básicas, como por exemplo o uso do plano celular? Você faz uso de todo o pacote? Faz sentido pagar o plano com sei lá quantos gigas de dados se você só consome a metade? 

Minimalismo não é apenas sobre coisas, mas principalmente sobre tempo, sobre o valor do tempo. Diminuir as atividades que não fazem sentido também faz parte desse processo. Talvez você esteja envolvido em atividades demais só porque você acredita serem importantes, ou então porque alguém pediu pra você, atividades que não fazem parte do seu processo de evolução, de crescimento, atividades que você detesta, mas continua fazendo porque não quer se indispor. Minimalismo é também aprender a dizer NÃO.

Elimine o excesso de atividades, abrindo mais espaço para diminuir o ritmo. Respire! Excesso de atividades gera perda de energia demais, logo redução da efetividade naquilo que se propõe a fazer.

Comece hoje a praticar esse novo olhar sobre tudo, sobre o quê realmente faz sentido e desempenha papel relevante na sua vida. Sua vida é uma coleção de coisas ou de momentos? Priorize sua energia para aquilo que te faz evoluir! Afinal felicidade e tempo ainda não se encontram na prateleira de uma loja! 

JAMAR TEJADA


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