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Jean Paulo e Clara Moneke celebram aumento do protagonismo negro em novelas: “Fazendo parte de uma mudança”

Os atores da novela das sete, “Vai Na Fé”, contam que o clima por trás do set é de muito acolhimento e pertencimento para todos os negros do elenco, que equivalem a 70%

Jean Paulo e Clara Moneke celebram um aumento do protagonismo negro em novelas: “A gente está fazendo parte de uma mudança”
Jean Paulo e Clara Moneke celebram um aumento do protagonismo negro em novelas: “A gente está fazendo parte de uma mudança”. Foto: Divulgação / Globo

Em 2023, pela primeira vez na história da TV Globo, as três novelas da emissora serão protagonizadas por artistas negros. Às 18h, Amor Perfeito, que estreou março, apresenta o pequeno Levi Asaf no papel principal. Fuzuê e Terra e Paixão, que irão estrear nos próximos meses, contam com as presenças de Giovana Cordeiro e Bárbara Reis, respectivamente. O trio fará parte de um marco significativo para a televisão brasileira.

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A história dos negros na teledramaturgia

Foram muitos anos até a comunidade negra ganhar mais espaço dentro das novelas. Apesar de constituírem 56,1% da população brasileira, segundo levantamento do IBGE de 2021, a população de pretos e pardos do Brasil não é representada de forma proporcional no audiovisual. A história dos negros na teledramaturgia é longa e por muito tempo este povo foi apagado das telas.

Uma das primeiras participações de pessoas pretas na televisão brasileira ocorreu em 1969, quando a novela A Cabana do Pai Tomás, de Hedy Maia, trouxe ao público a atriz Ruth de Souza, sendo sua personagem a esposa de um escravo, chamado Tomás, protagonizado por um ator branco, cuja pele era pintada com uma tinta escura para que ele parecesse negro. Essa caracterização, chamada de blackface, é uma técnica copiada do cinema americano. Por não acharem atores negros dignos o suficiente para trabalhar, utilizavam essa alternativa.

Mas quem ficou conhecida como a pioneira em protagonismo negro na teledramaturgia brasileira contemporânea foi Taís Araújo. Em 1996, ela deu vida a Xica da Silva, na Rede Manchete. Mais tarde, a atriz também se tornaria a primeira protagonista negra de uma telenovela da TV Globo, com seu papel em Da Cor do Pecado.

Essas duas, entre diversos outros artistas, marcaram uma geração inicial de participação negra na televisão brasileira. Mas seus papéis ainda eram muito estereotipados, cercando sempre o núcleo pobre da narrativa, sendo, em sua maioria, escravos ou empregados domésticos.

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Foi na década de 70 que telenovelas com temática de escravidão tiveram um maior destaque. Já nos anos 80 e 90, os personagens negros começaram a ser mais aceitos pelo público, dando espaço para relacionamentos inter-raciais e outros núcleos. Estes, porém, seguiam como personagens subordinados e secundários dos brancos.

“Conseguimos fazer parte de uma mudança”, diz Clara Moneke

Anos se passaram e, aos poucos, essa realidade foi se modificando. Com as lutas antirracistas e a internet sendo usada para exigir maior representatividade, as novelas foram se tornando mais diversas. Atualmente, podemos falar sobre o sucesso Vai Na Fé. A novela das sete que começou em janeiro de 2023 traz em seu elenco 70% de pessoas negras, segundo o protagonista Samuel de Assis, em entrevista ao UOL.

A história de Sol conquistou muitos telespectadores e a novela se tornou um grande triunfo. São diversos personagens divertidos – outros, nem tanto. Um destaque vai para o papel de Clara Moneke. A atriz de 23 anos dá vida a Kate, uma jovem que chama atenção pelo seu carisma e jeito debochado.

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Em entrevista exclusiva, Clara comenta a importância de um número alto de pessoas negras na produção: “A juventude, a galera que está vindo agora, tem que ver diferente do que eu já vi, do que a Carla Cristina viu, do que Elisa [Lucinda], que ainda é mais velha que a gente, mais experiente, viu. Então eu acho que o mais importante é isso, a gente conseguir fazer parte de uma mudança, porque eu sei que as pessoas não vão esquecer Vai Na Fé”.

A troca entre os outros atores negros da novela também é muito rica, de acordo com Clara. Sheron Menezzes, Bella Campos e Carla Cristina são algumas das atrizes que contracenam com Moneke. Segundo a atriz entrevistada, a relação por trás das câmeras é amistosa.

“O clima no set é de muita amizade, a gente se diverte muito. Como é um elenco majoritariamente preto, há muitas identificações. Então, é como se a gente tivesse em casa mesmo”, declara a jovem. Ela ainda conta que, durante as gravações, há muitos momentos de descontração, onde todos riem de situações que passam em suas vidas pessoais.

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Assim como Jean Paulo, seu personagem luta para conquistar o espaço

Outro ator que está conquistando o público é Jean Paulo Campos. Para a Bons Fluidos, ele comentou sobre a sensação de acolhimento que sentiu ao entrar para o elenco da novela. “É incrível. Desde as preparações a gente já teve essa sensação de acolhimento, de ‘estamos juntos aqui nessa, então vamos fazer acontecer'”, explica o ator.

Jean aponta que os bastidores da sua atual novela se diferem de outros projetos onde percebia um número baixíssimo de atores negros. “Mesmo eu sendo novo, eu já presenciei diversos produtos, diversos projetos em que realmente era muito difícil ter mais do que dois, três personagens negros”, desabafa o ator. Por isso, ele se sente muito feliz de poder participar do elenco de Vai Na Fé.

Para dentro do trama, ele enxerga que a novela conseguiu construir um personagem que, assim como ele, luta para conquistar o seu espaço. “Eu costumo falar que a gente tem isso bem parecido. Ele tem essa coisa de pertencimento do local, então se ele está lá, é porque ele realmente merece estar lá e ninguém vai tirar esse mérito dele. Então é muito legal fazer isso, porque realmente o Yuri não leva desaforo para casa. Se ele fala ele tem que falar lá na hora, e é isso”, conta Jean.

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Ele também percebe o grupo de amigos de Yuri, sua personagem, como um papel importante na sua história. Em locais com pessoas majoritariamente brancas, é comum que pessoas negras se sintam deslocadas, e ter alguém que venha da mesma realidade que a sua é de grande apoio.

“É de extrema importância, né? No começo da novela, era mais restrito esse nosso trio, a Bella Campos e a Clarinha Serrão, que também era superlegal”, relembra. O ator explica que agora a dinâmica vai mudar com a chegada de um coletivo que vai acolher esses alunos. Ele promete que, em breve, o público vai perceber que os personagens vão aprender muito e crescer bastante.

Novelas vêm denunciando o racismo

Vai Na Fé também traz algumas cenas que denunciam o racismo vivenciado pelas personagens. Em uma deles, Yuri é preso injustamente quando confundido como o autor de um crime de violência contra uma mulher. O jovem passa uma noite na cadeia, em uma das cenas mais emocionantes da novela. Jean relembra como foi a preparação para essa gravação. “Foi muito atípico todo esse dia de gravação. O peso da cena já conseguiria me ajudar demais para passar a emoção para a tela”, explica.

O ator ainda se diverte lembrando que no dia anterior as gravações, ele viveu um momento muito alegre em sua vida pessoal, ao assistir ao show de um dos seus artistas favoritos, Travis Scott. “Estava uma mistura de choro de felicidade do dia anterior, do choro de tristeza, de desespero”, recorda Jean.

Ele ainda complementa que foi um dia muito cansativo, pois esse tipo de cena requer muito dos atores. “Eu fiquei muito feliz que teve essa repercussão boa e o pessoal deu muito essa visibilidade para essa cena do Yuri, que realmente merece e acontece com diversas pessoas, a gente vê todos os dias na televisão”, acrescenta.

Ao ser questionado sobre como ele se sente fazendo parte desta onda de maior protagonismo negro da história da TV Globo, ele assume sua felicidade e sente que outros atores também estão lutando para fazer valer a pena esse espaço. “Todo mundo de mãos dadas para que a gente consiga fazer tudo da melhor forma para entregar para o pessoal nesse momento tão especial”, finaliza.