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Motoboy que vivia na rua é aprovado em OAB no Ceará: “Não se consegue nada só”

Sérgio Pereira, que ainda trabalha como motoboy, seguiu o seu sonho e, aos 36 anos, foi aprovado na Ordem dos Advogados do Brasil

Motoboy que vivia na rua é aprovado em OAB no Ceará: "Não se consegue nada só"
Motoboy que vivia na rua é aprovado em OAB no Ceará: “Não se consegue nada só” – Reprodução/Estadão/Arquivo Pessoal

Sérgio Chaves Pereira é prova que perseverança, humildade e progresso são características essenciais para chegar onde desejamos. Em seu caso, no topo da montava estava sua carreira de advogado. Parecia longe, mas, aos poucos, o maranhense conquistou, aos 36 anos, sua aprovação da Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB, e um estágio num escritório de advocacia.

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De morador de rua a motoboy e advogado

Quando Sérgio tinha apenas 7 anos, seus pais se separaram. Um foi morar no Pará. O outro, seguiu no Maranhão – onde nasceu, no interior do estado. Acontece que o atual advogado não conseguiu se adaptar à casa da mãe e nem à casa do pai e seus respectivos novos parceiros.

Ser um lar fixo, Sérgio se viu sozinho. Em uma de suas viagens de ônibus, decidiu descer na cidade de Jacundá, no Pará. Lá, inventou uma mentirinha à prefeitura da cidade. Disse morava em Teresina e que chegara para visitar uma tia. Lá, descobrira que a parente havia se mudado.

Assim, a prefeitura de Jacundá disponibilizou a Sérgio uma passagem de ônibus para Teresina. Ao chegar na capital do Piauí, o homem precisou dormir na rua. Levava consigo uma mochila com poucas roupas e uma escova de dentes. Tomava banho em postos de gasolina ou mesmo no Rio Parnaíba.

Chegada em Fortaleza

Um ano depois, Sérgio conseguiu uma carona na beira da estrada para Fortaleza, capital do Ceará. Lá, começou a trabalhar como flanelinha. Um dia, encontrou um rapaz que se encantou com sua história. A trajetória de Sérgio chegou até Nonato, o dono do lava-jato que o atual advogado começou a trabalhar. O patrão também deu casa e alimento ao homem.

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“Tudo na minha vida teve alguém que ajudou. Acredito que não se consegue nada só. Nonato me tirou das ruas. Rubens, um amigo, emprestou o nome para eu ter uma moto e trabalhar. Um irmão eu busquei de moto no Pará para ajudar a construir minha casa”, disse Sérgio ao Estadão.

Após a conquista do trabalho, o homem conquistou um amor e construiu uma família. Trabalhando também como motoboy, conheceu Juliana Morais, uma cliente do restaurante que fazia entregas. Juntos, são pais de Nicolas, que hoje tem 7 anos.

Antes de correr atrás do seu sonho, porém, resolveu realizar o da esposa. Trabalhando em três turnos diários, Sérgio trabalhava para que a amada pudesse se formar em enfermagem. “Tudo que eu fiz para ela, hoje ela faz por mim. O anel de formatura dela fui eu que dei. O meu, foi ela que me deu. Ela é minha base […] Quando ela se formou, eu falei: ‘Agora é a minha vez'”, disse.

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Rumo ao sonho!

Em 2017, Sérgio retomou os estudos básicos na Escola Municipal Rachel de Queiroz. No ano seguinte, foi aprovado no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), o que possibilitou que ele ingressasse na faculdade de direito.

“Graduação foi bem difícil. Principalmente no começo, por eu não ter a base dos ensinos fundamental e médio. Tinha colega que me corrigia, fazendo eu passar vergonha na frente dos outros. Ali eu percebi que além de todas as matérias, eu tinha que estudar português. O meu não era nem ordinário”, relembra.

Merecidamente, Sérgio passou na prova da OAB no 9º semestre e também já concluiu o 10º. Sua colação de grau acontecerá em 3 de fevereiro. Estagiário em um escritório de advocacia, o homem conseguiu o emprego através de um amigo, por uma indicação. Hoje, sonha em ter seu próprio escritório. Mesmo assim, para ajudar nas contas, segue como motoboy aos finais de semana.

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