Os animais têm sentimentos como os seres humanos?

As emoções fazem parte da forma como os seres vivos interagem com o mundo. Elas ajudam a interpretar o ambiente, reagir a estímulos e tomar decisões cruciais. Podem relacionar-se a mudanças fisiológicas e comportamentais – como o medo que acelera os batimentos cardíacos, ou a alegria que modifica expressões faciais. Mas, afinal, será que os animais sentem emoções assim como os seres vivos? O que a ciência diz sobre o assunto?

Emoções versus sentimentos: entenda a diferença

Primeiramente, é importante destacar a diferença entre emoção e sentimento. Apesar de muitos os utilizarem como sinônimos, eles não são a mesma coisa. As emoções são rápidas, instintivas e inconscientes. Já os sentimentos, são mais duradouros e exigem reflexão. Esses nascem a partir de uma emoção anterior – por exemplo, a emoção do medo pode gerar um sentimento de insegurança mais persistente. 

Essa distinção também é importante quando falamos sobre os animais. Afinal, embora haja um debate sobre a existência de sentimentos neles, as emoções já são bem mais estudadas.

Animais sentem emoções?

Embora os animais não possam contar como se sentem, diversos estudos apontam que eles são capazes de manifestar emoções. Cientistas já identificaram mudanças fisiológicas (como frequência cardíaca e hormônios) e comportamentais (como vocalizações e expressões faciais) que refletem seus estados emocionais.

Dentre os métodos utilizados para mensurar as emoções em animais, estão a análise de vocalizações (como mugidos e grunhidos), observação de mudanças corporais e, até mesmo o uso de escala de expressões faciais em algumas espécies (como cavalos, porcos, gatos e roedores). Esses dados podem indicar dor, medo, estresse ou bem-estar.

O que dizem os estudos?

Pesquisas divulgadas pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) demonstram que alguns animais, como porcos e cavalos, tomam decisões mais pessimistas após experiências negativas. Este comportamento pode ser comparado ao viés emocional observado em humanos.

A ideia de que apenas mamíferos sentem emoções, no entanto, está sendo contestada por novos experimentos. Em um estudo, abelhas submetidas a uma situação de estresse foram menos propensas a explorar odores desconhecidos, comportamento associado ao medo. Os dados sugerem, portanto, que insetos também podem apresentar respostas emocionais.

Nos macacos, comportamentos empáticos foram registrados. Eles recusaram-se a acionar uma alavanca que causava choque elétrico em outro indivíduo, mesmo quando isso significava abrir mão de comida. Cães também demonstraram capacidade de reconhecer emoções humanas e desenvolver quadros de ansiedade ou depressão. Elefantes, por sua vez, já mostraram empatia diante do sofrimento de membros do seu grupo.

Emoções e bem-estar animais

Mudanças fisiológicas são decisivas para as emoções, e incluem a atividade do sistema nervoso e os níveis de certos hormônios. O sistema nervoso autônomo regula funções do corpo como batimentos cardíacos, pressão sanguínea, respiração e digestão. Mudanças em sua atividade podem ser utilizadas para analisar emoções em diversas espécies.

Por exemplo, medições de frequência cardíaca e de níveis hormonais (como adrenalina, cortisol e dopamina), podem oferecer pistas sobre os estados emocionais. O aumento de adrenalina em situações de ameaça prepara o organismo para reações rápidas. Já a oxitocina, está relacionada à formação de vínculos sociais.

A controvérsia continua

Apesar dos estudos, nem todos os cientistas concordam com a ideia de que os animais tenham emoções semelhantes às humanas. Alguns argumentam que as interpretações baseiam-se em projeções humanas sobre o comportamento animal. Outros dizem que a falta de linguagem dificulta a comprovação das emoções em outras espécies.

Mais do que um tema científico, tratar das emoções dos animais é uma questão ética. Cabe à sociedade buscar formas de reduzir o sofrimento e garantir experiências positivas para todas as espécies.