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Receitas mágicas para aumento da imunidade funcionam?

Na coluna desta semana, Jamar Tejada aborda a imunidade e nos convida a uma reflexão: “Trate seu corpo com respeito, trate sua saúde para não ter que tratar sua doença”; confira!

Receitas mágicas para aumento da imunidade funcionam?
Receitas mágicas para aumento da imunidade funcionam? – FREEPIK/ gpointstudio

Escutamos muito falar em imunidade. Existe tanta receita mirabolante prometendo super blindagem por aí…

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São “shots” (diferentes ingredientes que são tomados em um único gole) de cúrcuma com limão, de própolis com canela, disso, daquilo outro… Não esquecendo dos chás, chá daquilo, daquele outro… Mas até que ponto esse monte de receitas realmente causa efeito? E, será que funciona?

IMUNIDADE ALTA COM RECEITAS ‘MÁGICAS’ DA INTERNET: ATÉ QUE PONTO ELAS FUNCIONAM?

Uma coisa é certa: a prática de exercícios físicos, controle do estresse, alimentação saudável e uma boa noite de sono são fatores-chave para um corpo com bom sistema imune, e digamos assim, mais equilibrado. Mas, como conseguir unir todos esses pontos é uma tarefa quase impossível (visto os imediatistas que somos). É muito mais prático tomar um “shotzinho” básico e acreditar que tudo vai dar certo não é mesmo?

Na verdade, nosso organismo costuma ser muito bom em regular essa tal resposta imunológica, só que essa autorregulação também pode falhar – e é aí que vem o perigo! Quando nossa imunidade baixa muito por algum motivo, por “N” motivos, que podem ser desde a falta de nutrientes até mesmo por aquele término com namorado (a), não conseguimos neutralizar adequadamente os microrganismos aos quais estamos expostos diariamente. É aí que eles se aproveitam e acontecem as infecções oportunistas ou recorrentes.

“Imunidade lá em cima”

Você pode pensar que a imunidade deve ser mantida no seu limite máximo sempre, tanto que a gente sempre ouve: “Tô com a imunidade lá em cima!” E isso é bem errado.

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O sistema imunológico trabalha dentro de uma faixa de equilíbrio. Quando ele está superestimulado, promove uma resposta inadequada a agentes que não deveriam despertar a nossa resposta imunológica – como antígenos próprios – ou seja, moléculas do nosso próprio corpo.

Há um exagero na defesa, uma grande defesa interna onde só deveria ter acontecido uma simples discussão.

Nas doenças autoimunes, o sistema imunológico começa a atacar proteínas específicas que, dependendo da função e localização, levam a lesões e doenças como o lúpus eritematoso sistêmico, a artrite reumatoide e a diabetes tipo 1.

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Alimentação

É claro que há relação entre o suporte nutricional e a imunidade, mas não exatamente como é anunciado em alguns lugares. Não existe essa história da existência de uma fórmula mágica que vai colocar sua imunidade nas alturas. Se tem, eu desconheço!

Uma boa imunidade é favorecida por aquilo que citei no início do texto: nutrição adequada aliada a exercícios físicos regulares, sono de qualidade e controle do maldito estresse.

Relação com as doenças autoimunes

A alimentação influencia direta e indiretamente na composição da nossa microbiota (flora intestinal), na permeabilidade intestinal (o que é e o que não é absorvido), em processos inflamatórios e no funcionamento dos leucócitos – também conhecidos como células brancas – pontos que impactam nossa resposta imunológica.

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Vários estudos já relacionaram alimentação ocidental, rica em gorduras saturadas/trans e proteínas, e pobre em fibras ao aumento no risco de desenvolver diversas doenças como as cardiovasculares, a diabetes tipo 2 e até mesmo alguns cânceres. Segundo os pesquisadores, isso pode ser devido a uma inflamação de baixo grau que se mantém cronicamente. Logo, se as dietas podem prejudicar a resposta imunológica, também promovem reações exageradas, resultando em doenças autoimunes.

Percebemos que as alergias alimentares têm se tornado cada vez mais comuns, mas isso pode ter influência da variedade da nossa alimentação. Um estudo que acompanhou mais de 800 crianças do nascimento até os 10 anos de idade concluiu que a ingestão de uma maior diversidade de alimentos está associada a uma menor incidência de alergias alimentares.

Nas doenças autoimunes, também já existem evidências de que elas podem ser influenciadas pela alimentação. Por exemplo, o consumo excessivo de sal já foi associado a uma maior incidência da artrite reumatoide.

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Adotar uma dieta diversificada e equilibrada, rica em frutas e vegetais coloridos, oferecendo suporte à função imunológica por meio do aumento da ingestão de antioxidantes e nutrientes associados, além de alimentos fontes de proteínas, gorduras e carboidratos de boa qualidade com moderação, pode ajudar a manter o peso saudável. Também auxilia a reduzir os parâmetros inflamatórios e a uma modulação positiva da microbiota intestinal, favorecendo, assim, a produção de ácidos graxos de cadeia curta que regulam o funcionamento de todo o sistema imunológico.

O segredo parece estar aí e é bem simples: comer de tudo que faz bem um pouco!

Uma revisão recente concluiu que a suplementação adequada de micronutrientes (como as vitaminas D e C e o zinco) modula a resposta imunológica positivamente, reduzindo o risco de infecções. Micronutrientes, como os minerais zinco, selênio, ferro e cobre e as vitaminas A, C, D, E e complexo B são essenciais para uma resposta proliferativa bem sucedida no sistema imunológico.

A vitamina D merece atenção especial, pois a produção endógena desse micronutriente é estimulada na pele quando exposta à luz solar (raios ultravioleta – UVB). Por essa razão, recomenda-se obter mais vitamina D das fontes dietéticas (peixes, fígado, gema de ovo e alimentos enriquecidos como leite e iogurte), além de estimular a síntese endógena por meio da exposição solar da pele sempre que possível.

Ainda assim, a suplementação da vitamina D pode ser necessária para alguns indivíduos sob orientação de profissional de saúde. Mas para isso, deve ser feita de maneira adequada, assim como as indicações e doses devem ser ajustadas às suas características individuais com acompanhamento profissional.

Que fique claro que nada substitui uma boa alimentação diária, fontes proteicas como carne vermelha, leite, ovos, assim como proteínas de origem vegetal (feijão, lentilha, soja, ervilha, grão-de-bico) que são essenciais, bem como outros alimentos ricos em zinco (frutos do mar, cereais integrais, sementes e castanhas) que geram resistência nas células contra invasores externos. O ácido fólico, encontrado nas carnes e nos grãos, que auxilia na formação dos glóbulos brancos, também pode ser encontrado em vegetais verde-escuros, como couve, espinafre, rúcula e brócolis. E ainda nos cogumelos – em especial no shitake, rico em lentinan, substância que estimula a produção de macrófagos e linfócitos, o que favorece a imunidade.

Água, água e mais água

E é claro que não podemos esquecer daquilo que compõe grande parte do nosso organismo: a água, fundamental para fazer as reações bioquímicas acontecerem nas nossas células. Não há como esperar uma super saúde se a água que circula seu corpo é pouca e suja, costumo dizer aos meus pacientes: Água parada cria lodo! Não espere uma piscina translúcida se você não trata a água e limpa os azulejos todos os dias. Sacou?

Quanto os famosos “shots”, chás e alguns alimentos específicos que tanto se ouve na mídia, principalmente em redes sociais, na grande maioria não possuem embasamento científico de forma isolada, mas podem ser inseridos dentro do contexto de uma alimentação saudável e balanceada, mas nada em exagero!

O que acho preocupante é aquela criatura que todo dia come a mesma coisa, que não se arrisca a tentar ao novo. A situação fica ainda pior se essa “alimentação” só for baseada em farinha branca e embutidos, sem uma única folhinha verde no prato… E essa pessoa ainda acredita que um shot será o agente salvador dos hábitos errados de toda uma vida.

Não se iluda!

Nada substitui um bom prato com cores variadas de frutas, legumes e verduras e melhor ainda, se essas cores puderem ser trocadas a cada dia.

Trate seu corpo com respeito, trate sua saúde para não ter que tratar sua doença!

Tejard.